cozinhadinha

Era assim…
– Três tijolos, gravetos secos, um pedaço de jornal – contabilizo em voz alta. Olho para os lados e continuo: – Está faltando alguma coisa. Deixa eu pensar. Claro! Fósforo, sem isso não tem jeito nem de começar.
Tudo preparado. Agora é só chamar a mãe para fornecer os ingredientes para iniciarmos nossa primeira de muitas aventuras pelo pequeno universo mágico da cozinha. O local era sempre o mesmo, debaixo de velho pé de limão capeta, ou limão rosa ou de cheiro, como é conhecido em alguns lugares.
– Eu monto o fogão – digo com ar de seriedade, com a certeza de quem sabe o que está fazendo.
Um tijolo de cimento em frente ao outro e um no fundo para não deixar o fogo escapar.
– Está pronto! Agora é só atear fogo. Faço um chumaço de jornal, risco o fósforo e peço para que os gravetinhos cooperem. Eles atendem.
No cardápio, nada de sofisticação, apenas arroz e batata cozida. O arroz é torrado a la Marineusa, mexendo delicadamente para não queimar, mas cuidando para não quebrar os grãos .
Finalmente, chegou o momento, agora é só colocar a primeira água e testar o sal.
– Acho que deve ir mais um pouquinho, pois a batata que será colocada no meio do arroz para cozinhar, vai puxar o tempero – falo com ar de chef.
Ficamos todas ali, irmãs, meninas, observando numa ansiedade sem fim.
Gritamos a mãe para trazer os pratos e talheres. Esperamos sentadas em cima de tijolos espalhados no chão. A comida é servida com cerimônia, de maneira regrada, um pouquinho só para cada uma, para atender todo mundo. Comemos com imenso apetite.
O arroz tinha gosto de fumaça e ternura. Bonitezas daquele tempo.

6 comentários sobre “cozinhadinha

  1. Ôpa! Que cantinho gostoso este seu!! Adorei conhecê-lo e adorei também sua descrição do restaurante sem zum-zum-zum do centrão. É isso mesmo. O Patio do Colegio não parece que está no centro, nem em SP. Bjão.

  2. Que lindo blog! Conheci hoje e quanto mais visito, mais gosto! Olha, “cozinhadinha” me levou à infância também! Fazia a mesma coisa, com 3 pequeninas panelas de ferro, cada uma maiorzinha que a outra, assim como as irmãs ao redor do fogãozinho de lenha improvisado. Torcíamos a favor do fogo “não apaga não, falta um pouquinho para o arroz ficar no ponto!” Nas panelas o cardápio era sempre o mesmo : arroz, na maior; farofa de ovo, na média; couve, na pequena. E como vc bem disse, sabor de fumaça e ternura, bem divididinhos para ninguém ficar sem! Adriana, daqui uns dias farei meu blog também, quanta inspiração vc me trouxe, grata demais, Flor!

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