seu zé dos ovos

Jeito sereno, corpo espigado, calça de tergal e camisa social. Não saía de casa para vender ovos, vestia-se de acordo com a ocasião: fazer visitas. Os olhos azuis refletiam um desejo não realizado de ser pai. Vontade de alguém para continuar algo de si.

Trazia a cada quinze dias boa prosa,  uma cesta recheada de ovos e na alma disposição para a bondade. Sentado de cócoras ascendia um cigarro de palha. O café era servido em um copo americano, seu Zé tomava com a paciência presente nos velhos.

Os ovos colocados com desvelo no meio da palha não precisavam ser escolhidos.  Lindos, não lembravam em nada a monotonia dos ovos de granja.

O resultado da visita era deliciado no gosto de gemadas,  ovos quentes com a gema bem molinha, bolos e doces. Tudo ganhava sabor com os ovos do seu Zé.

Não me lembro bem, mas acho que as visitas começaram a ficar espaçadas e o seu Zé sumiu. Aparece de vez em quando, nostalgicamente, embalando minhas receitas com ovos de granja. Esses são comprados nos supermercados, vêm disfarçados, em tom amarronzado, tentando dizer ao meu inconsciente que são caipiras, tal qual aos do Seu Zé dos Ovos.

4 comentários sobre “seu zé dos ovos

  1. Retrato de uma personagem que me transporta ao campo, às searas de trigo, à casa da aldeia onde se cozia o pão num forno comunitário e no final para aproveitar ainda o calor do forno se coziam tabuleiros de pão de lé e se assavam as primeiras maçãs.
    Beijinho

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