amor aos pedaços

Hoje não é meu aniversário. Queria que fosse, em um tempo distante. Tempo em que o aroma de abacaxi invadia a casa anunciando mais um ano de vida. A fruta descascada, devidamente, picada era colocada, com água, açúcar e ternura, na panela. A calda ficava ali, volatilizando, em fogo brando. O resultado dessa combinação era um perfume raro que transbordava os limites do olfato.
A massa de farinha, açúcar, ovos e outros ingredientes tomava forma através de um tabuleiro tamanho extra G, G de gigante, não de grande. Ao sair do forno ficava aguardando a temperatura ideal para ser cortada ao meio e receber o recheio de abacaxi.
Vários furinhos feitos com um garfo tinham a importante missão de se transformarem em micro-túneis para levar a calda perfumada aos locais mais longínquos, alcançando toda a extensão territorial da massa. Conseguiam. Ao final, coco fresco era salpicado, cobrindo de branco pureza o que, agora, poderia ser nomeado de Bolo de Aniversário.
Naquela época, acreditava que o cerimonial era para festejar o meu aniversário. Hoje, percebo, a celebração acontecia para permear minha memória afetiva de delicadezas e me nutrir de amor em todos os dias do ano.
Mais velha a cada dia. La vida ségui su curso.

Um comentário sobre “amor aos pedaços

  1. As memórias do seu aniversário são doces como o abacaxi e têm a a ternura leve de uma cambraia que envolve o melhor presente que se pode desejar, amor e carinho.
    Um beijinho

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