feito à mão

Eu e as minhas irmãs passávamos horas brincando com argila. Essa era uma das nossas brincadeiras preferidas.
Naquele tempo não sabíamos, mas lidar como argila é como se relacionar. É preciso dedicação. A massa tem a hora e o tempo dela.
Quando a argila está ressecada, é necessário acrescentar um pouco de água, começar a sová-la para que fique uniforme. Se o tempo dela não for respeitado, ela até aceita ser modelada, mas ao secar demonstra sua insatisfação através de várias trincas. Não adianta remendar. É serviço jogado no chão.
Ao longo do tempo, a gente vai criando intimidade com o barro e percebendo ponto ideal para começar o ofício. As pontas dos dedos em contato com a massa branca é que nos direcionava para a melhor forma de ir manejando a argila.
No contato com o outro também precisamos aprender a hidratar a relação com atitudes que possam transformá-la em algo gostoso de mexer, trabalhar, manusear.
Foi criando panelinhas, mesas, sofás, poltronas e bonecas de barro é que aprendi um dos maiores ensinamentos que uma brincadeira lúdica pode oferecer: para se relacionar é preciso dedicação, investimento.
Busco resgatar no passado o aprendizado que aconteceu lindamente entre irmãs e inspira o que desejo cultivar nas minhas relações do presente.

Para minha amiga e irmã de caminhada, Marcilene , que acredita na amizade e em tudo que é feito à mão.