meu olhar em guerra e paz

O olhar da guerra é azul noite que invade e devassa o universo.
É dor que brota no mar de filhos dissecados em busca de vida nos braços das mães.
São meninas moças que não querem ver, ouvir, falar e sentir a lacuna fina e profunda marcada pela falta.
A guerra estampa o padecimento cristalino em despedidas sentidas, sem volta.
Ela chega através dos cavalheiros que carregam a simbologia da fome e do sofrimento eterno.
A guerra cruza a morte adornada em roxo melancólico sem desviar.
É formada de súplicas para o fim do mal que corrói a alma.
Tem como pilar os arquétipos da agressão e da covardia revelados em felinos ávidos e na hiena cínica.
O olhar da guerra é sentencioso e ausente.
É um atalho sombrio à custa de direitos alheios.
É licencioso de amor.
É o finamento da dignidade.
O olhar da paz…
Ah! O olhar da paz é um retrado revelado em cores solares.
É leve.
O olhar da paz é um espantalho na lavoura.
É amor colhido em forma de cana-de- açúcar em campo fértil.
É canto melodioso dos meninos de todos os cantos em uma língua universal.
É o laranja no vestido que vive amanhecendo da moça que tem um futuro para desvendar.
A paz vive nas memórias afetivas guardadas em caixas com fitas de cetim.
No vento batendo nos rostos dos meninos.
No sobe e desce da gangorra.
Nas brincadeiras dos tempos de meninice.
Na juventude vivida.
No cavalo da folia de reis.
A paz mora no passeio do homem com o filho na cacunda.
No pai ensinando lições de vida.
E no menino vidrado em seu brinquedo.
Nas mães com seus filhos nos braços cheios de vida e futuro.
Nas famílias.
Ela reflete uma noiva com vestido azul céu de tão alvo, montada em um cavalo branco, agarrada ao seu amado e à promessa infinita de uma vida inteira.
O olhar da paz é pintado em matizes douradas e marchetado pela música, pelo sol morno, pelo trabalho, pelo cheiro da terra, pela comida.

Inspirado em Guerra e Paz, Portinari. Exposição até 20/05/2012 Memórial da América Latina. Vale a pena. É emocionante.